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 O Globo 

A Matemática é Disciplina Indispensável

Para professor, executivos que têm conhecimentos em exatas estão mais preparados do que os demais

19 de Junho de 2005

Por Fabiana Ribeiro e Léa Cristina

 

Entrevista: Aguinaldo Ricieri

 

Consultores de grego e latim são algumas das ferramentas usadas pelo professor Aguinaldo Ricieri, da pós-graduação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em sua missão de ensinar matemática. Dura missão, como pensa a maioria? Absolutamente. Famoso pela facilidade com que decifra conceitos aparentemente incompreensíveis, Ricieri levanta a tese de que conhecimentos sobre ciências exatas fazem a diferença entre os executivos preparados e os despreparados. Assim, defende a adoção do ensino de matemática nos cursos de pós-graduação em geral. Para Ricieri, ter prazer pelo que faz e apoio técnico da escola em que leciona são fatores básicos na formação do bom professor.

 

O GLOBO: MBA ou Mestrado, professor?
AGUINALDO RICIERI: Sendo bom, pouco importa.

 

Há divergências entre professores quanto ao objetivo dos cursos de pós-graduação. Na sua opinião, vale a tese de que MBAs servem para quem está na empresa privada e os mestrados para quem está no meio acadêmico?

RICIERI: Segundo a burocracia governamental, a regra é esta. Mas não concordo com ela. É um conceito burocrático e maniqueísta, que impede que os bons profissionais com MBA se tornem professores. E que professores sejam executivos. Pouco importa o título. Um aluno de pós-graduação deve lembrar que o objetivo do curso é torná-lo um profissional melhor, fazê-lo crescer. E isso inclui crescimento financeiro.

 

E onde entra a matemática?

RICIERI: Já que as empresas modernas estão sufocadas por problemas complexos de administração, a matemática é uma disciplina indispensável. Isso porque revela a capacidade de se pensar de maneira lógica.

 

Mas há cadeiras, como o marketing, que fogem totalmente da matemática.

RICIERI: Ã‰ um erro pensar assim. O mercado valoriza quem sabe pensar de forma quantitativa. Afinal, essa pessoa tem facilidade para qualquer coisa. No marketing, ele precisa saber como calcular a taxa de retorno de uma campanha publicitária. Ou ainda: como produzir anúncios com custos mínimos.

 

Ou seja, dominar a matemática faz diferença no mercado de trabalho...

RICIERI: Tomar a decisão certa, com base em dados quantitativos, tem feito a diferença entre o executivo preparado e o despreparado. Os exemplos são inúmeros e de áreas diferentes. Como administrar, buscando custo mínimo e lucro máximo, por exemplo, uma usina sucroalcooleira, que tem 15 variedades de cana-de-açúcar, cultivadas em 80 sítios, distribuídos a 30,40 e 50 quilômetros de distância da fábrica? Sem matemática avançada e moderna nos cursos de pós-graduação, é impossível decidir corretamente quando colher, como transportar e em que produtos transformar a cana.



 

 

 

 

Só que a matemática afasta alunos da pós-graduação, não é?

RICIERI: Sim. O problema está lá atrás, antes da graduação. Aí, os cursos de pós-graduação cometem o erro de oferecer conteúdo qualitativo. Trocam, por blá-blá-blá, derivadas e integrais fracionárias. É claro que não são todos, mas a proliferação de cursos não veio necessariamente com qualidade. 

 

E a universidade precisa melhorar... 

 

RICERI: Sim. É preciso formar, indissociavelmente, consultor e cientista. Isto é, permitir a um profissional que, estando alojado num centro de pesquisa ou universidade como professor/cientista, possa prestar serviço autônomo às empresas como consultor. Assim, levar aos alunos de pós-graduação casos reais de consultorias ou pesquisas e seus resultados financeiros e/ou científicos, por certo vai motivá-los e, conseqüentemente, vai melhorar os cursos de pós, que ajudarão o Brasil a se desenvolver. 


Como o senhor avalia a importância de escolher um bom curso de MBA?

RICERI: Um bom MBA pode ajudar muito uma carreira profissional. Se o curso for ruim, no entanto, pode atrapalhar muito. Executivos com títulos obtidos em instituições de terceira linha são freqüentemente inseguros. Com medo de perder seu cargo, evitam problemas quanitativos complicados, pois sabem que terão de contratar um consultor matemático para resolver um logaritmo ou uma equação diferencial.


Como associar administrador de empresas, profissional das exatas e matemática?

RICIERI: Simples. Basta fazer um estudo etimológico das palavras-chaves que formam sua pergunta: administrador, empresas, matemática e exatas. No iluminismo, com o cáuculo diferencial e integral de Newton e Leibniz, os estudiosos constataram a perfeição dos elementos formadores da natureza (natura). Essa obra perfeita (exactio operis), metamorfoseada no pentágono das estrelas do mar, nos hexágonos das colméias, na espiral dos caramujos, reforçou a crença de que o universo é governado por Deus (mundum natura administrari). Portanto, a futura revolução industrial, que tinha as criações de Deus como modelos perfeitos, objetivando transformar, inteligentemente, matéria-prima em produtos, porém, com o mínimo custo e máximo lucro, tem a matemática como possibilidade de governar (administrari) suas empresas. Queriam, veladamente, torná-las universos (mundum) perfeitos (exactus). Daí o profissional das exatas ser aquele que decodifica ou aprende (mathematicus) com a natureza (natura) e revela ao administrador esses segredos vitais que o ajudarão a tornar sua empresa perfeita e, assim, lucrativa. 

 

Há professores que se destacam. Existe uma fórmula para ensinar?

RICIERI: Não. Um bom professor precisa reunir três elementos: prazer pelo que faz, conhecimentos de sua área e condições técnicas de trabalho. No meu caso, tenho consultores de grego latim, que me dão suporte para explicar melhor os conceitos de matemática. 

 

Sancora

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